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Carlos Marques de Almeida - Tristes Turistas

Wednesday, August 7, 2024 - 11:01
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Eco

Vista do Rossio, Lisboa está transformada num centro comercial a céu aberto onde se vende de tudo. Lisboa é uma superfície sem gente de gente que ficou sem Lisboa.

Como se o turismo fosse só economia. Metade do crescimento económico de Portugal vem do turismo. O PIB cresce à razão de 13% com as receitas da indústria do turismo. O Governo aposta no turismo como quem aposta nas viagens espaciais. Portugal, nação abençoada por Deus e feliz por natureza. O segredo mais bem guardado da Europa, o paraíso à beira-mar plantado, as paisagens celestiais no país perfeito. Certamente que sim, com certeza que não, tudo depende do ponto de vista tirado na diagonal de uma cidade atravessada por um rio. Lisboa é o epicentro desta revolução. Vista do Rossio de guitarras à janela, Lisboa está transformada num centro comercial a céu aberto onde se vende de tudo – pastéis de belém, paisagens magnéticas para frigoríficos distantes, fachadas novas que escondem escombros velhos a rebentar com memórias.

Na Baixa vende-se a memória em discursos de plástico e percursos em tuk-tuk asiático. O que não se vê na cidade são portugueses, porque a cidade não está feita para os portugueses. Lisboa é uma superfície sem gente de gente que ficou sem Lisboa. Na Baixa vende-se tudo menos aquilo que a cidade perdeu. As sereias de Lisboa voam em torno da estátua de Camões como se o que teria sido ontem voltasse a ser amanhã.

Nota: pode ler este conteúdo na íntegra na edição online do ECO de 5 de agosto 2024.