Com as férias parece que o Sistema fica deserto de recursos e repleto de doentes. Parece que os portugueses adoram ficar doentes no Verão, o que é um argumento incompreensível e insultuoso.
Portugal é um satélite do SNS. O clima do país muda com os sucessos e as crises do Sistema de Saúde. Se o SNS funciona normalmente, o SNS é o certificado histórico do êxito da democracia. Se o SNS não cumpre a sua função ideal, o SNS está tomado pelos interesses corporativos. Para desmoralização nacional o SNS nunca funciona em momentos essenciais – falha no Natal, falha na Páscoa, falha no Verão. Com as férias parece que o Sistema fica deserto de recursos e repleto de doentes. Parece que os portugueses adoram ficar doentes no Verão, o que é um argumento incompreensível e insultuoso.
A filosofia do SNS baseia-se no preconceito ideológico de libertar os portugueses da doença. Como se a doença fosse uma opção de liberdade e não uma imposição das contingências, do tempo, da idade, da decorrência natural de sermos mortais. Mas não. O SNS para a política mais ideológica é uma espécie de Ministério da Imortalidade. Esta ideia transforma o Sistema num enorme labirinto kafkiano onde as responsabilidades se diluem em cateteres de soro espetados em veias esquecidas em salas de espera pelo país. O SNS está transformado numa enorme repartição pública, gerido com a insensibilidade burocrática das ditaduras, suportado por horas extraordinárias, assente em listas de espera. Listas de espera alimentadas pelo tempo da vida dos outros.
Nota: pode ler este conteúdo na íntegra na edição online do ECO de 12 de agosto 2024.