Entre o Presidente-Rei e o Rei-Republicano, os grandes homens de acção vão agir com a emoção inteira que conduz a democracia ao Infinito. E Portugal está sentado numa cadeira presa por elásticos.
Enquanto a TAP não voa para fora da esfera pública, enquanto o país se arrasta na intriga do Orçamento, enquanto as escolas abrem sem professores, enquanto as Urgências fecham sem médicos, enquanto a Procuradora se despede com palavras exóticas, a política ocupa-se agora com a questão urgente das Presidenciais.
É como se o Presidente da República estivesse em fim de prazo e às portas de Belém à espera de um táxi para o levar para a próxima estação. Sim, porque o futuro de Marcelo é incerto sem a Universidade e sem o admirável mundo do comentário político. Seria interessante uma reflexão política sobre o perfil do próximo ex-Presidente da República. Mas neste ponto as especulações são curtas e pedestres porque simplesmente inexistentes. Ninguém imagina o actual Presidente em silêncio na figura reverencial de um Senador da República. Silêncio e invisibilidade não casam com o perfil de Marcelo o exuberante, o optimista católico e o político de uma vida. Um cargo internacional, que é a ambição clássica dos políticos portugueses reformados ou rejeitados pela nação, não se configura com o carácter de Marcelo. O ainda Presidente é um produto certificado da política nacional, português genuíno que consegue conciliar o perfil de um Estado Novo progressista com a cultura democrática de um Abril conservador revolucionário. A questão interessante que parece não ocorrer a ninguém é como será feita a despresencialização do Presidente da República. Ninguém imagina Marcelo imóvel na moldura do retrato oficial na Galeria dos Retratos Presidenciais.
Nota: pode ler este conteúdo na íntegra na edição online do ECO de 9 de setembro 2024.