A política em Portugal começa todas as manhãs com o noticiário das sete. A política em Portugal fecha todas as noites com a nova intriga ou a última novidade.
Afinal, o paraíso também arde. Longe dos rios e das paisagens marítimas existe um Portugal desconhecido que se evapora no fumo do fogo. Para o espectador aéreo que voe pelo interior do país, a paisagem revela o remorso negro das cinzas e do esquecimento. É uma fatalidade que as alterações climáticas parecem justificar. Não importa as responsabilidades políticas, a gestão indigente, a desertificação. A floresta em Portugal é um segmento da selva primordial em plena Europa civilizada.
O discurso dos políticos assegura que a vontade política move montanhas, transforma países, garante o harmonioso desenvolvimento do interior. Vamos construir cidades artificiais com os níveis de desenvolvimento mais avançados da Europa e painéis luminosos que substituem a paisagem natural pela obscena publicidade de tudo o que se vende e que se compra. As cidades artificiais são um projecto político para acabar com o interior. Portugal é um país original até ao limite do ridículo pois acredita numa ideia para o país em que só existe exterior, superfície, modernidade envernizada sem substância ou identidade. As árvores estão bem nas reservas municipais das cidades para passeios ao fim de semana e spa para cães.
Nota: pode ler este conteúdo na íntegra na edição online do ECO de 25 de setembro 2024.